A criação de uma startup é desafiadora e intensa, mas será possível manter a saúde mental durante esse processo? Segundo Andy Dunn, fundador da Bonobos, a resposta é sim. Em 2016, após vender a empresa por US$ 310 milhões, Dunn percebeu que os maiores ensinamentos vinham da sua luta pela estabilidade mental e não apenas da experiência com o empreendimento.
O Diagnóstico e os Desafios do Transtorno Bipolar
Quando ainda era universitário, Dunn foi diagnosticado com transtorno bipolar, mas não procurou tratamento adequado até 2016, quando um episódio grave o levou a buscar ajuda. Para ele, o estado maníaco é comparável à psicose: um período de ilusões e hiperatividade que impede a realização de tarefas. Ao longo dos anos, Dunn percebeu que para alcançar o sucesso nos negócios, precisaria equilibrar sua saúde mental com o trabalho.
Em seu livro “Burn Rate: Launching a Startup and Losing My Mind”, Dunn compartilha como foi construir a Bonobos enquanto aprendia a aceitar e gerenciar o transtorno bipolar. Ele acredita que todos possuem saúde mental, independentemente de diagnósticos específicos, e que qualquer pessoa pode ter desafios psicológicos. Ainda assim, empreendedores relatam mais problemas mentais que o público em geral, talvez pela pressão única dessa profissão.
Neurodivergência e Criatividade
Dunn observa uma relação interessante entre neurodivergência e criatividade. Embora não seja claro se o empreendedorismo atrai neurodivergentes ou se intensifica essa característica, ele acredita que existe um ciclo contínuo e, por vezes, desafiador, entre essas duas facetas. O estado de hipomania – o ápice do transtorno bipolar – pode ser vantajoso para a produtividade, mas, segundo Dunn, vem com um custo. Ele conta que lidava com ideação suicida por meses a cada ano e que eventualmente a mania retornava, causando novas crises.
A Importância do Debate e da Empatia no Trabalho em Equipe
Mesmo durante os períodos mais produtivos, Dunn admite que a hipomania o tornava menos colaborativo e mais irritado com discordâncias. Hoje, ao liderar a Pie, uma rede social focada em conexões presenciais, ele enxerga o valor do debate e incentiva a divergência de opiniões como um passo essencial para decisões estratégicas. Para ele, discordar é um caminho para decisões mais sólidas e fundamentadas.
O Estigma e a Saúde Mental nos Negócios
Embora a saúde mental esteja ganhando mais espaço nas discussões, empreendedores ainda hesitam em compartilhar diagnósticos com colegas e investidores, temendo o estigma. Dunn é um dos consultores do Founder Mental Health Pledge, iniciativa que pede aos investidores para priorizarem a saúde mental dos fundadores. Ele aconselha que os fundadores aguardem um pouco antes de compartilhar questões pessoais com investidores para evitar preconceitos que ainda existem. Apesar dos desafios, sua abertura sobre o transtorno bipolar não prejudicou a capacidade de captação de recursos: a Pie levantou recentemente US$ 11,5 milhões em Série A.
Terapia e Estabilidade
Para manter sua saúde mental estável, Dunn segue um regime rigoroso de terapia e medicação. Ele compara a rotina de autocuidado a um “regime olímpico”, onde seu objetivo final é viver uma vida plena, independentemente do transtorno. Ele é aberto sobre como esses cuidados permitem que ele trabalhe e tenha uma vida equilibrada. “Para mim, a medalha de ouro é morrer de outra coisa”, afirma ele, destacando a seriedade da taxa de suicídio associada ao transtorno bipolar.
Trabalhar Duro sem Exceder os Limites
Ao criar a Pie, Dunn quer uma equipe dedicada, mas sem perder o foco no bem-estar. Ele reconhece que a semana de trabalho de 40 horas pode não ser suficiente para uma startup que visa mudar o mundo, mas oferece suporte aos funcionários para que possam se desenvolver sem comprometer a saúde mental. Dunn acredita que o trabalho duro não deve comprometer a estabilidade emocional. Segundo ele, é possível construir uma startup de sucesso sem sacrificar a saúde.
FONTE: TECHCRUNCH