No TED AI 2024, realizado em São Francisco, especialistas da área tecnológica se reuniram para discutir o impacto, as oportunidades e os desafios da inteligência artificial (IA) em diversas áreas, incluindo ciência, arte, e sociedade. Diferente do evento anterior, que focou em previsões futuristas sobre a IA, a edição deste ano abordou temas práticos e desafios reais, como os direitos de dados e regulamentação, além das relações cada vez mais complexas entre humanos e IA. Este artigo destaca as apresentações e insights de grandes nomes do setor, que exploraram desde o uso ético até as aplicações práticas de modelos de IA avançados.
Contexto Atual da IA no TED AI 2024
O TED AI 2024 ocorreu em um momento de grande expansão da IA e trouxe novas abordagens para discussões sobre seu impacto prático e as implicações da tecnologia no dia a dia. Organizado por Walter e Sam De Brouwer, o evento refletiu sobre o momento atual do setor, onde as grandes expectativas iniciais sobre a “nova eletricidade” da IA deram lugar a debates mais práticos e ao questionamento: “E agora?”
Os palestrantes se concentraram nos desafios urgentes que surgem com o uso da IA em larga escala, incluindo o uso ético, os direitos sobre dados de treinamento, as regulamentações necessárias e os possíveis impactos dessa tecnologia nas relações de trabalho.
Principais Tópicos Abordados
Os participantes exploraram tópicos complexos, que incluíram desde o uso da IA na ciência até o desenvolvimento de novos modelos de interação homem-máquina, com diversas apresentações de renome. Entre os palestrantes estavam:
- Carlo Rovelli: Físico que discorreu sobre consciência e tempo, explorando conceitos filosóficos aplicados à IA.
- Patricia Sharma: Pesquisadora que apresentou o uso de IA para decodificar a comunicação das baleias, em uma iniciativa inovadora.
- Harvey Mason Jr.: CEO da Recording Academy, que trouxe reflexões sobre o impacto da IA na indústria musical e formas de adaptação da música às novas tecnologias.
O Paradoxo da Produtividade na Era da IA
Um dos momentos mais impactantes foi a apresentação de Ethan Mollick, professor da Wharton School, que trouxe à tona o “paradoxo da produtividade”. Mollick abordou a desconexão entre o uso percebido da IA no ambiente corporativo e a realidade, em que muitos gerentes ainda acreditam que “ninguém está usando IA”. Ele introduziu o conceito de “ciborgues secretos”, aqueles funcionários que, mesmo sem reconhecimento oficial, já utilizam IA para otimizar suas tarefas.
Além disso, Mollick alertou para a necessidade das empresas em enxergar a IA não apenas como uma forma de reduzir custos, mas também como uma maneira de expandir suas operações.
Transformações no Setor de Descoberta de Medicamentos
No campo da saúde, Max Jaderberg, diretor de IA da Isomorphic Labs, destacou como a IA tem acelerado a descoberta de medicamentos. Com o uso do modelo AlphaFold, ele mostrou que já foi possível economizar anos de pesquisa e permitir uma personalização de tratamentos a um nível antes impensável.
Os Riscos e Controvérsias da IA
No campo da segurança, Paul Scharre, vice-presidente executivo do Center for a New American Security, destacou os riscos de modelos avançados caírem nas mãos erradas, como para o desenvolvimento de armas biológicas. Ele fez uma comparação com a proliferação de armas nucleares, sugerindo que o controle de componentes físicos pode ser uma estratégia viável para a governança de IA.
A fundadora da ReplikaAI, Eugenia Kuyda, alertou sobre os perigos dos companheiros de IA, argumentando que, se mal projetados, eles podem intensificar o isolamento humano. Ela defendeu uma métrica para otimizar o bem-estar humano em sistemas de IA, enfatizando a importância de projetar esses sistemas para promover conexões genuínas, e não apenas engajamento.
Visões Opostas: Treinamento de IA e Direitos Autorais
O TED AI 2024 também foi palco de intensos debates sobre direitos autorais e IA. A advogada Angela Dunning defendeu o treinamento de IA como uso justo, comparando com avanços passados, como a fotografia, que inicialmente foi vista como uma ameaça e acabou impulsionando movimentos artísticos. Em contrapartida, Ed Newton-Rex defendeu o licenciamento obrigatório de dados para IA, alegando que o uso sem licenciamento ameaça diretamente o sustento de artistas e profissionais criativos.
Perspectivas para o Futuro da IA
Entre as discussões, o professor de Stanford Surya Ganguli destacou a diferença entre a aprendizagem humana e a dos modelos de IA, sugerindo que a computação neuromórfica quântica pode ser um caminho para que a IA alcance maior eficiência. Já Guillaume Verdon, fundador da Extropic, apresentou a “inteligência baseada em física” como uma solução potencial para otimizar a energia consumida pelos modelos de IA, ainda que os desafios com resfriamento devam ser considerados.
No encerramento do primeiro dia, Noam Brown, da OpenAI, reafirmou a importância da escala para expandir o potencial da IA. Ele enfatizou que a IA deve continuar a evoluir, mas o foco no impacto organizacional, segundo o professor Pedro Domingos, deve se concentrar na “co-inteligência”, aproveitando a inteligência coletiva para maximizar as capacidades da IA.
Conclusão
O TED AI 2024 confirmou que a IA continua em crescimento acelerado, porém, as perguntas e os desafios evoluíram. Os debates sobre regulamentação, direitos autorais e riscos mostraram que o caminho ainda é incerto, mas o evento foi fundamental para abrir novos diálogos e possibilitar que o setor tecnológico evolua de forma responsável e conectada às necessidades reais da sociedade.
FONTE: ARSTECHNICA
